O que é a exterogestação e a importância de acolher mãe e bebê

27/09/22

 - PARA LEITURA

O termo exterogestão foi mencionado pela pela primeira vez pelo antropólogo Ashley Montagu e, de modo geral, diz respeito ao desenvolvimento do bebê nos três primeiros meses de vida. 

O que diferencia essa fase é a teoria de que o neném dá continuidade àquela evolução natural no útero. Ou seja, é como se ele ainda estivesse dentro da barriga mãe. Por isso, é tão importante entender esse processo e contribuir com o progresso da criança. 

A exterogestação é explicada do ponto de vista evolutivo, como veremos adiante. E, também, esclarece porque o primeiro trimestre do bebê é tão desafiador, tanto para ele quanto para os pais e cuidadores. 

O que é a exterogestação?

A evolução do Homo Sapiens foi o ponto de partida para que Montagu observasse o fenômeno da exterogestação. De acordo com sua análise, os seres humanos são os mamíferos menos desenvolvidos ao nascerem e, consequentemente, mais dependentes. 

Isso acontece porque, ao longo da evolução humana, tanto inteligência quanto cérebro humanos cresceram. Deste modo, a natureza fez sua parte ao demandar o nascimento “prematuro” do bebê. Caso contrário, não passaria pela pelve da mãe. 

Ou seja, aquela duração da gravidez que a gente aprendeu, de nove meses ou 40 semanas, deveria ser maior. Mas, como isso não foi possível, é como se o bebê continuasse a ser gestado fora do útero. 

Inclusive, esse é exatamente o significado do nome: extero (fora, externo) e gestação. Mas, cuidado, pois o termo é diferente da gravidez ectópica, quando o óvulo fertilizado fica fora do útero, por exemplo, nas trompas. 

Em virtude de nascer enquanto seu sistema nervoso ainda não está completamente amadurecido, o ser humano demora, por exemplo, mais tempo para andar. Basta comparar o neném, ainda dependente, com um filhote de gatinho, que começa a andar pouco tempo após nascer. 

Enfim, a criança nasce ainda em formação e os três primeiros meses dão continuidade ao amadurecimento que ocorreria no útero. Para o bebê, trata-se de um momento extremo de transição, uma vez que ele sai de um cantinho seguro para o mundo externo, totalmente novo.  

Sabe quem tem um tipo de exterogestação? Os cangurus!

Como a gestação do filhote também é rápida, ele precisa ficar no marsúpio (aquela bolsa característica) por cerca de 200 semanas. Lá, ele mama e se desenvolve.  

Como é a exterogestação?

Antes de mais nada, é preciso compreender que a exterogestação compreende a sequência do desenvolvimento dos sistemas digestivo, respiratório e neurológico. Assim, é um tanto quanto difícil para o bebê se ver, de repente, forçado a se adaptar ao ambiente. 

Vamos pensar com a cabecinha do neném para entender como isso funciona?

Até o nono mês (ou 40 semanas), o que ele conhecia era um cantinho quentinho, seguro e, ainda, alimentado pelo cordão umbilical. 

Daí, de repente, o bebê precisa aprender a respirar, dormir, entender os estímulos externos e se alimentar. Em outras palavras, deve saber como sobreviver! Uma vez que ainda está entendendo tudo, a exterogestação é um momento desconfortável para a criança. 

Naturalmente, ela se vê totalmente dependente da mãe ou cuidador, por isso, tanto choro e necessidade de colo. Afinal, chorar é a única forma que ele tem de se comunicar, além do que o contato com mãe, pai e cuidadores conforta. 

Observe que, nesse primeiro trimestre, outros sinais também costumam aparecer, como o reflexo de Moro. É aquele gesto que o neném faz quando sente um movimento brusco ou se assusta. 

Quanto tempo dura a exterogestação?

Um termo bastante utilizado para explicar a exterogestação é quarto trimestre. Isso quer dizer que, mesmo após o parto, o bebê segue gestado nos três primeiros meses de nascido. Sendo assim, é a duração mais aceita da exterogestação. 

A teoria da exterogestação aponta que esse período pode durar de três a quatro meses. Todavia, há uma abordagem de que a gestação deveria terminar mesmo, quando o bebê começasse a engatinhar, ou seja, ali pelos nove meses. 

Em contrapartida, a similaridade do ser humano com outros mamíferos só viria aos 18 meses. Nesta fase, já tem ossos encaixados e bem formados. Em síntese, conforme a fonte de consulta, o período da exterogestação deve durar de três a 18 meses.

O que fazer durante a exterogestação?

Em primeiro lugar, saiba que, mesmo após o nascimento, na cabecinha do bebê, ele e a mãe são uma só pessoa. Por isso, é importante proceder de forma a acolhê-lo, facilitar sua adaptação e, por fim, promover seu desenvolvimento. 

  • Preserve o contato com a pele do bebê para dar maior segurança. Uma dica é carregá-lo em um sling.
  • Estimule a amamentação, pois além de alimentar o recém-nascido, promove o contato de pele e fortalece os vínculos.
  • Simule o ambiente do útero, por exemplo, fazendo um “charutinho” ou com ruídos, como um secador de cabelo ou aspirador de pó ligados à distância.
  • Carregue o recém-nascido de lado para que não sinta tanto a gravidade.
  • Balance o bebê, simulando o movimento do útero.

Outro ponto importante é entender que, nesse período, não é incomum que o neném prefira dormir no colo da mãe. Afinal, este é o lugar no qual se sente acolhido e protegido. Mais uma vez, o sling ajuda muito porque, assim, a mãe ou cuidadores seguem com a rotina normalmente.  

Por outro lado, é necessário promover essa transição, de tal forma que o bebê entenda sua hora e local de dormir. Sabe o que funciona? Deixar o quartinho com luz mais baixa e deixar uma música bem suave ao fundo. 

Em seguida, faça uma massagem, como a shantala, que relaxa e intensifica esse contato. Por fim, dê um banho e o coloque para dormir. Isso se chama higiene do sono e é mais um passo para auxiliar a criança nesse período de transição.  

Técnica dos 5’s

Pai segurando o filho

O pediatra estadunidense Harvey Karp escreveu um livro, The Happiest Baby on the Block (2002), que deu notoriedade à teoria da exterogestação. Além disso, o profissional também redigiu um artigo, publicado na revista Parents, no qual dá dicas importantes de como passar pela etapa.  Uma delas é a técnica dos 5’s, a saber: 

  • Swaddle (enfaixar) o bebê em um lençol e acomodá-lo, como no útero 
  • Side-Stomach (estômago de lado), em vez de deitá-lo de costas, em alguns momentos do dia, para apoiar em sua barriga 
  • Shush (fazer “shhh”), um ruído bem baixinho e suave (lembra de imitar o barulho do útero?)
  • Swing (balançar), com movimentos suaves, principalmente quando o neném estiver chorando 
  • Suck (sugar), ou seja, a amamentação

Como saber se a exterogestação acabou

De modo geral, o fim da exterogestação costuma ser indicado quando há o terceiro salto de desenvolvimento, ou seja, o terceiro mês. Mas, como vimos acima, a duração desse período costuma variar conforme a fonte pesquisada.    

Como apoiar mamãe e bebê nesta fase?

Diante de tudo que falamos até aqui, já entendemos que o recém-nascido precisa de todo o cuidado, carinho e acolhimento nesta etapa. Afinal, de maneira muito brusca, ele sai de um ambiente de satisfação contínua para outro cheio de estímulos.  

Por isso, é tão normal que o bebê chore tanto nesta etapa, logo, é essencial saber interpretar esta forma de comunicação. Aliás, graças às mudanças que acontecem no cérebro da mãe, ela entende bem o significado de cada choro. 

Lá em cima, vimos que a exterogestação dura, em média, 100 dias, ou seja, cerca de três meses. Sendo assim, coincide com o puerpério, ou pós-parto. Trata-se de um período no qual a mulher passa por uma série de mudanças físicas ou psíquicas. 

Por isso, é muito importante que ela conte com uma rede de apoio para, também, passar por essa transição de forma mais tranquila. Assim, é preciso derrubar alguns mitos, como o de que ninguém sabe cuidar melhor do que a mãe. Inclusive, a criança sabe quando a mãe está ansiosa. 

Leia também: O que fazer quando o bebê não arrotou e dormiu

Camila Romano

Jornalista e mãe de primeira viagem que entre uma fralda e outra compartilha seus aprendizados e experiências para ajudar outras mulheres a superar as inseguranças e desafios da maternidade.

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